domingo, 20 de outubro de 2013

Grêmio IFSP e Comissão da verdade homenageia Eremias Delizoicov, estudante assassinado pela Ditadura


No dia 16 de outubro de 2013, os estudantes e servidores do Instituto Federal de São Paulo lotaram o auditório com mais de 250 pessoas afins de conhecer a história de um estudante muito ilustre para a escola e importante para história de nosso país. Eremias Delizoicov, estudante da então Escola Técnica Federal de São Paulo, assassinado pelos militares em 1969, no Rio de Janeiro. Para homenageá-lo, foi realizada uma audiência pública com a presença a mesa de Demetrio Delizoicov – seu irmão representando a família, Valdir de Oliveira – professor de Eremias, o diretor geral do campus São Paulo, Luís Claudio de Matos e sua vice, Alice Reis, o pró reitor de extensão, Wilson de Andrade Matos, o reitor do IFSP, Eduardo Antonio Modena, a Presidente da Comissão da Verdade da Unifesp, Guiomar Silva Lopes, o Presidente do Sinasefe-SP, Paulo Bonfim e o diretor de política do Sinasefe Cubatão, Felipe Queiroz; além do Presidente da Comissão da Verdade Rubens Paiva do Estado de São Paulo, Adriano Diogo e Aline Bailo, presidente do grêmio estudantil Charles Chaplin e da FENET.
Na audiência, Luís Claudio destacou que “a história de Eremias serve como lição para que o povo brasileiro não cometa mais o erro de permitir outro golpe no nosso país e que famílias não sejam mais destruídas como foi à família de Eremias e de outros que também foram vítimas desse golpe e dessa ditadura”. Para Aline Bailo, “conhecer a história do Eremias é muito importante pelo seu exemplo, por também ter sido estudante daqui e ser de um movimento estudantil perseguido pela ditadura, que deixou tudo para lutar pela liberdade e pela democracia no país. O grêmio estudantil deve garantir que seu nome e sua seja sempre lembrado pelos estudantes.”
Destaque para a participação dos estudantes e servidores do campus de Cubatão.
O momento mais emocionante da audiência foi quando o Diretor Luís Claudio entregou ao Irmão de Eremias, Demétrio, o certificado de conclusão de curso; uma forma de reparação simbólica às violências cometidas pelo estado sobre esse militante.
No final, a audiência foi encerrada com muitos aplausos e a saudação de “Eremias Delizoicov, PRESENTE!”.
A atividade foi muito importante para o grêmio estudantil, que acreditou do início ao fim, passando em sala, mobilizando todos os cursos para participar, contribuindo para que os estudantes tenham consciência de que lutar é importante e que se hoje podemos nos organizar através do grêmio e outras entidades, deve-se a companheiros que deram suas vidas pra isso!
Um pouco mais sobre Eremias
Estudante de Mecânica da antiga Escola Técnica Federal, atual IFSP – a Federal – ingressante em 1967 do ensino clássico (ensino médio) do colégio estadual M.M.D.C, Eremias Delizoicov nasceu em 27 de março de 1951, em São Paulo, Filho de Jorge Delizoicov e Liubov Gradinar Delizoicov.
Segundo relatos de seu único irmão, mais velho e confidente, Eremias era músico, tinha grande dedicação pelas práticas esportivas, disputou o torneio paulista de judô, sendo o primeiro colocado na sua categoria. Treinou natação, fez parte da equipe de remadores do Corinthians e começou a treinar capoeira. Ainda auxiliava o pai nas atividades de comércio e tinha um grande gosto pela leitura, foi assim que passou a questionar a realidade brasileira.
Em 1967, no colégio estadual M.M.D.C, articulou-se com outros colegas para formar chapa para disputar as eleições do grêmio estudantil. Em 1968 liderou um movimento de estudantes, chegando a organizar uma greve. Foi transferido compulsoriamente tendo que se matricular em outra escola para concluir o ano.


Ficou conhecendo detalhes do acordo MEC-USAID (acordo entre o ministério da educação e United States Agency International Development – que reorientava o sistema educacional brasileiro de acordo com necessidades do desenvolvimento capitalista internacional) e engajou-se no movimento estudantil contra tal acordo. Passou a interagir com estudantes de outras escolas, formando e articulando uma chapa para a disputa, em 68, das diretorias da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). Organizou com esse grupo um movimento de estudantes secundaristas nas escolas da zona leste de São Paulo.
Durante as greves operárias de 68, em Osasco – cidade da região metropolitana de São Paulo – assistiu à algumas assembleias sindicais com outros colegas e levou o apoio dos estudantes aos operários em greve.
No início de 1969, entrou para VPR – Vanguarda Popular Revolucionária. Simulou uma discordância com os pais e passou a morar fora de casa, Mas visitava-os semanalmente. Em meados de julho de 69, forças de repressão já sabiam de sua militância. Eremias, sabendo do inevitável, reuniu-se com os pais e os pôs a par de sua real situação. Nunca mais o viram, vivo ou morto.
Eremias foi assassinado em 16 de outubro de 1969, na vila Cosmos, no Rio de Janeiro, quando teria reagido a ação montada pelos agentes do DOI- CODI que cercaram sua casa e atiraram até matar o jovem.
As impressões digitais de Eremias Delizoicov foram confirmadas pelo datilocopista da Delegacia de Crimes Contra a Pessoa, de São Paulo. Mesmo assim, Foi lavrado em nome de José Araújo de Nóbrega. Ou seja, enterraram o corpo de Eremias com o nome de outra pessoa propositalmente.
Em 1970, seu pai foi convocado pelo DOPS, em São Paulo, pelo delegado Sergio Fleury. Enquanto aguardava-o, ouviu-o dizendo a uma mulher algo como “é uma questão de tempo, ou ele é preso ou morto como o filho daquele senhor”, referindo-se a ele. Neste momento, inteirou-se da morte do filho. Em seguida, Fleury disse que o corpo de Eremias foi enterrado com o nome de José Araújo Nobrega., que havia sido preso antes e que portanto, o morto em outubro de 69 era Eremias.
Fleury descartou qualquer possibilidade de ajuda em relação ao esclarecimento dos fatos. Dias após a ida de seu pai ao DOPS, a imprensa toda noticiaria o caso.

Em 1979, após a edição da lei da anistia, seus pais iniciaram a tramitação jurídica para obtenção do seu atestado de óbito, que só tiveram acesso em 1993.

0 comentários:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More