domingo, 13 de maio de 2012

"Essa propaganda governamental sobre a escola técnica não corresponde a realidade"


A Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico foi entrevistar Clebson Lima, diretor de Grêmios da Associação dos Estudantes Secundaristas do Estado do Rio de Janeiro (AERJ), estudante de edificações na Escola Técnica Estadual João Luiz do Nascimento, onde foi presidente do Grêmio, hoje é militante do Movimento Luta de Classes (MLC) e membro do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Na entrevista, mostrou a importância da mobilização da juventude em defesa dos seus direitos e o que hoje o governo vem fazendo com as escolas técnicas brasileiras.

Clebson, conte-nos um pouco como foi a sua perspetiva antes de cursar edificações, como foi durante o curso e como está sendo hoje a sua realidade, com o diploma em mãos?
Bem, a expectativa era grande e as propagandas davam a impressão de ser outro mundo, bem diferente das escolas sem o ensino técnico, quando na verdade o problema só se aprofunda, pois a escola técnica se propõe a formar uma força de trabalho qualificada, mas não tendo investimento não há qualificação, que dirá a formação de um trabalhador pensante que é a nossa principal proposta na defesa da politecnia. Quanto ao diploma em mãos... é um papel que representa um passo rumo a realização de um sonho, porém existem bons e maus técnicos, o diferencial está em ter certeza que se formar é um caminho que se estende por toda a vida e nada melhor do que a piãozada, a classe operária, para ensinar.
-  A pouco tempo atrás você foi diretor de grêmios da AERJ e conviveu grande parte da gestão mobilizando as escolas técnicas, como é a realidade hoje do ensino técnico?
Essa propaganda governamental sobre a escola técnica não corresponde a realidade, os problemas são muitos, faltam laboratórios, aulas práticas, visitas técnicas, qualificação para o corpo docente, além dos problemas estruturais comuns a qualquer outro ensino público. Esse problema vai continuar existindo enquanto o governo destinar quase 50% do nosso orçamento para o pagamento de uma dívida pública e menos de 3% em educação.
    Como você se sente com as escolas técnicas com essa realidade e hoje o governo federal lançando o  Pronatec?
A realidade já era precária no período em que estudei, quando ainda não havia o Pronatec. Agora com essa proposta atrasada de desviar o recurso público para a rede privada, teremos os empresários de bolso cheio, os estudantes sem nenhuma condição de formação e um país com pouco potencial de desenvolvimento pela pouca qualificação técnica. Hoje infelizmente as escolas técnicas vomitam trabalhadores, apertadores de parafuso e com o Pronatec isso só vai piorar.
   Durante uma declaração, você afirmou que “hoje infelizmente as escolas técnicas vomitam trabalhadores apertadores de parafuso”, por que dessa afirmação?
As respostas anteriores são uma brevia dessa. Os técnicos no nosso país além de se formarem com todos os problemas já citados quando vão pro mercado são desvalorizados, haja visto a falta de regulamentação para algumas categorias, no caso de edificações um técnico não pode projetar, só executar. A falta de um ensino politécnico, ou seja, de um ensino que relacione o trabalho intelectual com o manual, que faça com que o trabalhador enxergue a sua função como uma parte de um todo limita o crescimento, desenvolvimento das funções e do próprio trabalhador ao B-A, BA.
     Qual é a necessidade da campanha acampada pela FENET sobre os 66%?
     Quero começar saudando a FENET por abraçar mais essa luta. Uma luta que é fundamental para que os trabalhadores tenham mais uma conquista quanto a sua valorização, pois a distância do salário pago a um técnico em edificações, por exemplo, é enorme quando comparado a um engenheiro ou arquiteto e o motivo não pode ser o tempo de estudo (graduação 5 anos e técnico 3 anos) ou função desenvolvida, uma vez que o técnico responde na ausência do engenheiro ou arquiteto. O único motivo para essa realidade é a ganância dos patrões que para terem lucros maiores desvalorizam os técnicos e para pagar menos, logo a luta para que os técnicos tenham como piso salarial pelo menos 66% do piso dos graduados mostra a sua justeza, fortalecendo os trabalhadores na luta entre as classes, onde os interesses dos patrões são diferentes dos interesses dos trabalhadores.
   Qual é o recado que você tem para todos os estudantes de escolas técnicas do Brasil e qual é o recado que você manda para os estudantes que irão participar do Encontro Nacional dos Estudantes de Escolas Técnicas?
A luta por uma educação de qualidade, é uma escola para a luta por trabalho digno e uma sociedade justa; nessa escola temos de nos formar com excelência e o ENET, momento onde se discute educação técnica com os verdadeiros interessados, cumpre o papel de ajudar nessa formação. Por isso todos os estudantes de escola técnica devem participar do ENET, para garantir a realização dos próprios sonhos não só para ter um diploma, mas para assegurar a plenitude da existência humana com uma felicidade verdadeira que só se pode ser conquistada quando acabarmos com a fome e todas as outras mazelas geradas pelo capitalismo.  

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