As lutas pelo transporte
público são uma das maiores lutas do Movimento Estudantil no Brasil. Isso se dá pelas péssimas condições do transporte, preços abusivos
e pela falta da garantia de direitos básicos, como o passe-livre ou meia passagem.
Em Goiânia não é diferente, com protestos recorrentes todos os anos, na época em que o aumento é anunciado pelas empresas que monopolizam o transporte há 40 anos sem parar. Isso leva a um péssimo serviço, onde os trabalhadores e estudantes são carregados todos os dias como gado, pagando um preço abusivo.
Em Goiânia não é diferente, com protestos recorrentes todos os anos, na época em que o aumento é anunciado pelas empresas que monopolizam o transporte há 40 anos sem parar. Isso leva a um péssimo serviço, onde os trabalhadores e estudantes são carregados todos os dias como gado, pagando um preço abusivo.
Aumento abusivo
Desde 2008,
houve um acréscimo de 50% no preço do bilhete único, enquanto a inflação foi de
“apenas” 35%. Nesse ano de 2013, a passagem chega ao preço assustador de
R$3,00, tornando-se um dos mais caros do país e destruindo o poder de compra da
classe trabalhadora.
Assim,
um direito que é o transporte público se torna uma mercadoria muito lucrativa,
que na mão de um monopólio aparentemente inabalável, serve somente aos
interesses de um pequeno grupo, às custas de toda a população pobre.
Frente Contra o Aumento
e o primeiro ato
Aproveitando
as articulações forjadas nos anos anteriores, diversos Grêmios, CAs, DAs,
organizações de professores,a FENET e o DCE-UFG compuseram uma frente para combaterem
juntos contra o aumento, realizando mobilizações grandes, que atraíram a
atenção de toda a população.
No
primeiro ato, organizado no dia 8 de maio, os estudantes fecharam o principal
cruzamento do setor central, das avenidas Goiás e Anhanguera. Os estudantes ficaram lá durante quase quatro horas, esperando
que um representante da Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos viesse
recolher uma carta de reivindicações, que pedia o congelamento da tarifa,
publicação dos custos e gastos das empresas que argumentavam ter “dificuldade
pra lucrar” e a publicação do cálculo feito pra aumentar a tarifa.
Os estudantes ainda
afirmaram sua solidariedade ao movimento grevista dos trabalhadores dos
transportes coletivos, que ocorreu na semana anterior, e para manter o trânsito
fechado atearam fogo em uma pilha de pneus, que serviu como fogueira e atrativo
do ato.
Após
o recebimento da carta e a promessa de que esta seria encaminhada para a
reunião da CDTC, órgão que delibera a respeito do aumento, a manifestação se
dispersou, mas sem que a PM prendesse alguns estudantes utilizando seus agentes
à paisana.
Segundo ato e confronto
Um
novo ato foi marcado para oito dias depois, na porta do histórico Lyceu de
Goiânia, que se dirigiu ao terminal da Praça A, com quase 600 estudantes que
caminharam mais de 4 km até o terminal. No dia haveria a reunião da CDTC, com o
aumento possivelmente sendo decretado já para a próxima segunda-feira.
Ao
chegar no terminal uma nova fogueira de pneus surgiu, e a PM iniciou um
confronto ao se aproveitar de uma ambulância que tentava passar pelo local para
agredir os estudantes, que responderam à altura com pedras e pedaços de
madeira. Os policiais em meio ao seu despreparo e desespero dispararam quatro
vezes com munição letal e recuaram com medo do grupo de estudantes de ensino
fundamental e médio que se defendia como podia.
Após
essa cena, o Batalhão de Choque foi chamado para dispersar a manifestação, e o
que se viu foi um espancamento de adolescentes em praça pública, que depois se
espalhou para todos que estavam em voltas. Nem os usuários de ônibus, entre eles
um pastor que teve o celular quebrado e recebeu uma madeirada nas costas, e nem
a imprensa burguesa, que teve repórteres atingidos por fragmentos de bombas,
escaparam.
Cerca
de 120 estudantes ainda se reagruparam, e engrossaram as filas dos trabalhadores
e estudantes da UEG em greve, indo juntos para a Praça Cívica, onde
supostamente ocorria a reunião da CDTC.
Já
no fim da tarde os jornais publicavam que a reunião havia sido cancelada, sem
deixar claro o porquê. A imprensa marrom, por estar atualmente fazendo oposição
ao governo do estado mostrou com todas as imagens a violência, engrossando o
coro contra o aumento.
Crescimento do
Movimento e mais ações
Dessa
forma, a Frente Contra o Aumento já era vista como uma força legítima pelos
estudantes e trabalhadores, e como uma ameaça pelo Estado. Uma próxima
manifestação foi marcada para a Praça Universitária, indo para a Praça Cívica,
onde ocorreria nova reunião da CDTC.
Lá,
os manifestantes expulsaram uma grande quantidade de policiais à paisana que se
infiltraram, às vezes chegando a ter que ameaçar fisicamente os agentes. Na
praça, os estudantes fecharam a entrada da Avenida 84 com grande quantidade de
pneus, cortando todo o fluxo de ônibus da região sul da cidade para o centro,
causando um prejuízo enorme para as empresas.
O
protesto manteve o caráter pacífico e de massas, com mais de 600 estudantes e
muitos trabalhadores comparecendo e engrossando as fileiras do movimento. Houve
apenas um incidente onde policiais escolheram aleatoriamente um estudante pra
ser preso, o que desencadeou uma reação brutal com pedras, paus e um molotov,
que fez a PM deixar o manifestante pra trás, recuar e remover algumas viaturas
do local.
Apesar
da força da manifestação, a delegação enviada para o Palácio Pedro Ludovico foi
ignorada e levada duas vezes a uma outra sala, onde ocorria uma reunião do
Passe-Livre que em nada servia no momento. Assim, o aumento foi decretado e no
mesmo dia a tarifa de R$ 3,00 já estava valendo.
Lições e fortalecimento
Apesar
da aparente derrota, cerca de 200 estudantes voltaram à Praça Universitária,
fazendo uma histórica assembléia no pátio da Faculdade de Direito, para definir
o futuro do movimento, criando contatos em escolas mais distantes do Centro e
criando perspectivas para uma atuação futura de longo prazo.
Com
o desenvolvimento do movimento e o fortalecimento da Frente Contra o Aumento se
vê a necessidade de fortalecer um movimento com perspectivas de longo prazo,
que lute não só em enfrentamentos pontuais, mas que leve adiante a bandeira do
transporte efetivamente público, ou seja, estatal, gratuito e com gestão
transparente.
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