sábado, 3 de novembro de 2012

Em semana da prova do ENEM, guerra pelo ingresso na universidade fica mais evidente.

De Raphael Almeida, Rio de Janeiro


É trágica a situação da educação no Brasil, mesmo com o número de universidades públicas e Institutos Federais crescendo verticalmente, estamos muito longe de suprir as necessidades. Apenas 14% dos jovens entre 18 e 24 anos conseguem ingressar nas universidades, esse é o menor índice de toda América do Sul, dos que entram no ensino superior, cerca de 76% se matriculam nas instituições de ensino privado, que cobra altas mensalidades e oferece, em geral, uma educação de baixa qualidade.

Propagandas mostram que só neste ano se inscreveram para a prova 6.497.466 pessoas, registrando um aumento de 4,4% em relação a 2011, um recorde na história do concurso, porém escondem que, existem apenas 300 mil vagas nas universidades públicas, excluindo do ensino superior público mais de 6 milhões de jovens. 

Mas por quê o direito de ingresso no ensino superior?
Em dezenas de estados é comum observarmos o descaso com a educação na escola pública, exemplos como as escolas que não tem professor, o ano letivo termina e os estudantes são aprovados mesmo sem saber nada do conteúdo são cotidianos. Para esses estudantes, é dito que é democrático "disputar" as vagas do ENEM com outros jovens que tiveram a oportunidade de passar o ano estudando num cursinho.

Essa covardia travestida de "disputa democrática" joga milhares de jovens na depressão,  ficam tachados como "burros" ou "fracassados" pela sociedade se não conseguem uma das poucas vagas. Coincidência ou não, a cada 100 pessoas que se suicidam, 70 delas são jovens entre 18 e 24 anos e a sua causa é a falta de perspectiva de vida. Devemos entender que se mesmo todos os jovens gabaritarem a prova, ainda sim, mais de 6 milhões  não ingressarão nas instituições públicas por falta de vagas.

Outros dados também preocupam, segundo o PNAD 2008, a média de escolaridade de brancos, é de 8,3 anos, e a de negros é de 6,5 anos. Há ainda o dado mais alarmante que é o dos jovens universitários, enquanto 35,8% dos jovens brancos em idade universitária estão frequentando cursos superiores, 16,4% dos negros estão na mesma situação.
Há, portanto uma disputa desigual no acesso às vagas das universidades. É preciso dar  melhores condições de acesso à juventude oriunda das escolas públicas e da juventude negra, que é ainda mais marginalizada no ensino superior. Programas como as cotas (PLC 180/2008) são implementados nas universidades, são positivos porém insuficientes.

"Mas estudantes cotistas não vão piorar o nível da faculdade?"
Os setores mais atrasados da sociedade sempre fazem esse tipo de afirmação, mas a Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), por exemplo, divulgou que 49% dos cotistas passaram em todas as matérias no primeiro semestre, contra 47% dos egressos sem cotas. Já a UNICAMP, uma das principais instituições do país, divulgou que a média dos cotistas do curso de medicina em 2005 (primeiro ano das cotas) foi de 7,9 enquanto os não-cotistas ficaram com a média de 7,6.

 Precisamos avançar! Todos na luta em defesa do Livre Acesso ao Ensino Superior!
Mesmo com o avanço das cotas, esse programa está longe de representar a verdadeira democratização do acesso ao ensino superior, pois não altera a essência da exclusão que é a falta de vagas. Como já foi dito anteriormente, cerca de 6 milhões de pessoas se inscreveram no ENEM 2013 para apenas 300 mil vagas nas instituições públicas.

Segundo Yuri Pires (1° Vice Presidente da UNE e militante da UJR) é preciso construir mais lutas em defesa da educação. "Precisamos garantir a universalização do acesso ao ensino superior, entendendo que a educação é um direito do povo e não um serviço que deve ser regulado pelas leis do mercado e que exclua os jovens como temos visto no Brasil. Dar condições aos cotistas de seguir seus cursos com condições dignas de permanência é outra questão que não podemos abrir mão, com a construção de residências e restaurantes universitários, bolsas e uma efetiva política de assistência estudantil. É hora de unir os estudantes para lutar por oportunidades iguais para todos, pondo fim a exclusão do ensino superior e tornando a universidade aberta a todo o povo. Como bem disse, Ernesto Che Guevara: “a Universidade deve pintar-se de negro, mulato, operário e camponês, ou o povo a invadirá e pintará com as cores que quiser.”"


Raphael Almeida é Coordenador Geral da FENET 

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